quarta-feira, julho 14, 2010

Auto-engano (republicando)

E se a pretensa segurança de agora não passasse de um suspiro? E se você descobrisse que o orgulho moral que o coloca no pedestal, na verdade, é tão somente fumaça diante da sujeira interior? E se os acertos de hoje se revelassem como insuficientes para sufocar os erros não perdoados?

O que restaria, se não apenas a graça de Deus que nos sustenta em meio à realidade confusa e incoerente de nossa natureza? E que sentido teria a vida para um faminto que, de repente, encontrasse um banquete em pleno deserto? Teria ele mais esperança e confiança de que chegaria com vida no final da caminhada? Seus pés teriam novas forças? Seus olhos deixariam de esquivar-se do horizonte? Sua boca voltaria a produzir saliva? Seus músculos seriam revigorados? Sua fé em Deus continuaria a existir?

O encontro com o Infinito é o que nos sustenta. O resto são tentativas de auto-engano.


[Este texto foi excluído e republicado devido a problemas na configuração deste blog]

domingo, julho 11, 2010

Descobrir os pés e encobrir o corpo inteiro

A justa ênfase dos pregadores na condenação ao pecado corre um risco: na busca pelo culpado, descobrir os pés e encobrir o corpo inteiro.

Explico: pecar é mais do que um ato, é uma condição existencial. Paulo, apóstolo, nos ensina muito isso em suas cartas. Ele mesmo nos diz que a busca pela santidade não é simplesmete uma lista de regras, mas sim uma luta entre carne e Espírito (Rm 7.14-25). Ou seja, é uma luta entre quem sou e quem Deus é; uma guerra existencial. Se pregamos o pecado apenas como um ato errado, vamos descobrir o erro, mas encobrir a condição que gera o erro. Vamos substituir a humildade e a dependência existencial do Espírito pelo orgulho moral do farizeu.

Eu sei que devemos nomear os pecados, principalmente em uma geração tão relativista. Mas tomemos cuidado para não cair na tentação de reduzir a realidade humana. Que Deus nos dê sabedoria!

E nossas crianças?

E as nossas crianças? Elas que já são vulneráreis naturalmente, na América Latina são ainda mais, devido a pobreza extrema e aos mecanismos de exclusão e injustiça social. Veja a seguir alguns dados relevados recentemente pela pesquisa A Pobreza Infantil: Um Desafio Prioritário. A pesquisa ainda está sendo finalizada pela CEPAL e o UNICEF.

80 milhões de crianças latino-americanas vivem na pobreza e 32 milhões na pobreza extrema;
– No Brasil, quase 23 milhões de crianças vivem na pobreza (38,8%!) e 8,5 milhões na pobreza extrema (14,6%).

O que não percebemos é que abandonar as crianças é também abandonar as virtudes ainda presentes nelas. Jesus já dizia que quem não se tornar como uma criança não entrará no Reino dos Céus. Ou seja, quem não olhar para elas e compreender o que elas têm de melhor não irá compreender o significado do reino de Deus.

Concordam?