sexta-feira, julho 31, 2009

Com dor de barriga, falando sobre o mal


Fui acometido de uma possível infecção intestinal. Não entendo muito de saúde, mas quando eu próprio sou o doente é inevitável pensar nela. Imagino o que poderia ter causado este mau-estar: talvez o peixe que comi no almoço ou mesmo o salgadinho durante a viagem do Rio para Belo Horizonte na quarta-feira.
A verdade é que sempre há uma causa, e sempre há uma consequência diante da realidade, boa ou ruim (neste caso, ruim). Não que isso seja imediato ou previsível, como muitos teorizam. Mas o fato é que somos cercados pelo mal e suas relações perversas. Acho que pensamos pouco a respeito disso. Ou seja, o mal não é somente uma categoria isolada (seja espiritual, social ou econômica). Ele se faz nas relações ou nos elos que ligam uma ação a outra.
Por exemplo, o assassinato de adolescentes. Segundo estatísticas divulgadas recentemente, de 2006 a 2012 irão morrer 33 mil adolescentes entre 12 e 18 anos em 267 municípios brasileiros. O assassinato em si não pode ser lido como um fato único. Ele está ligado também à injustiça nas questões de raça, gênero, idade, e territórios. Ou seja, o mal pode ser mais intenso quando se conjuga a outros fatores ou elos de iniquidade.
Precisamos aprender a ler a Bíblia e a realidade a partir desta perpectiva. Assim, poderemos enfrentar com mais maturidade as consequências da atuação do mal.
Se lermos o relato de Marcos sobre a prisão e a morte de Jesus (capítulos 14 e 15), chegaremos à conclusão de que as sucessivas ações do mal foram feitas por diferentes personagens: Judas, os guardas, os mestres da lei, o sumo-sacerdote, o povo, Pilatos... E ainda no capítulo 14, a exortação de Jesus a seus discípulos nos alerta que esta conjugação do mal começa dentro de nós mesmos: "a carne é fraca" (Mc 14.38)
Para enfrentar essa "corrente do mal" precisamos inevitavelmente fazer parte de uma "rede do bem". Para tanto, devemos estar unidos, em nome de Jesus.

PS.: Depois de muitos chás, alimentação regrada e descanso, já me sinto bem melhor do estômago.

sexta-feira, julho 24, 2009

Ao som dos mosquitos

O som dos mosquitos parece uma orquestra de baixos. Eu olho de dentro do mosquiteiro, e sorrio por saber que eles estão do outro lado. Estou em Igarapé-Açu (PA), na casa de meus pais, e lembro que já havia esquecido o tanto de mosquitos (aqui conhecidos como carapanã) que rodeiam nossas orelhas.
Estou no terceiro dia de estadia aqui. Me sinto como estes mosquitos: andando em círculos, sem direção certa. Tento lembrar que estou de férias, mas ainda tenho a sensação de dever sobre alguma coisa. Talvez seja isso mesmo: nunca tiramos férias completamente quando vivemos num mundo tão cheio de complexidades. Sempre temos uma missão, um objetivo, um olhar sobre os problemas.
Enquanto assisto TV, lembro que esta pode ser uma boa oportunidade para eu olhar de novo minha história, e, quem sabe, compreender melhor meus desafios de hoje. Família, fé, respeito, dificuldades sociais, pobreza... tudo isso tem a ver não somente com convicções teológicas e sociais, mas também com minha própria história pessoal. Não é possível lutar contra a pobreza se você não sentiu alguma vez a dor de ser pobre. (não quero dizer que você precisa necessariamente ter sido pobre, mas que você deve ter sentido os efeitos da pobreza).
Os mosquitos me incomodam, confesso. Mas tristeza mesmo vem quando percebo o quanto impotente me sinto diante da realidade. A começar pelas relações humanas e familiares. Preciso aprofundar minhas convicções a ponto de lutar por elas. E sei que somente o Espírito Santo pode fazer esta revolução em mim.

segunda-feira, julho 20, 2009

Rumo ao arco-íris



As malas estão (quase) prontas para a viagem. Hoje sigo para o Rio de ônibus. Na quarta de manhã cedo, embarco no vôo da Gol para Belém. Depois de 2 anos e meio, vou rever meu pai. Estou com saudades da família. Pena que meu tempo será curto: apenas uma semana. No entanto, aguardo com expectativas os dias que estaremos juntos; eu, meu irmão, minha sobrinha, meu pai e minha mãe.
Na bagagem, levo um livro sobre perdão. Meu coração pede a Deus que o milagre da reconciliação aconteça entre meu pai e meu irmão. A Bíblia chama isso de "mistério" e "ministério". Remendar, unir novamente o que está afastado, restaurar a forma original e, assim, permitir que haja vida novamente.
Essa deveria ser nossa luta mais forte, pela qual gastaríamos nossas forças e dons. Essa é a obra do Pai: reconciliar para si todas as coisas pelo meio de Jesus Cristo.
Só consigo imaginar o resultado disso como um grande arco-íris cortando o céu azul. A obra de Deus traz a beleza para o coração humano.

sábado, julho 11, 2009

Fui à Mangue Seco, mas não molhei os pés


Quase 7 da manhã. Quarta-feira, início do meu terceiro e último dia em Recife (PE), e eu só havia visto a praia de longe. Daí minha resolução: acordar cedo e apreciá-la.
Sentei-me em uma cadeira da estrutura de madeira montada sobre as águas, e tentei ficar em silêncio para ouvir os sons que tanto gosto. Não fosse a sujeira deixada pelos boêmios da noite anterior e a presença incômoda de uma cadela grávida, eu teria conseguido me concentrar mais.
Ao sair, vi uma canoa chegando. Tive a ideia de ir ao outro lado e visitar a famosa praia de Mangue Seco (aquela aonde a novela Tieta foi filmada). Lembrei que não tinha dinheiro. Cheguei próximo de Chico, o dono do barco, e perguntei o preço de ida e volta. "Dois reais para ir e dois para voltar". Revirei o bolso da minha mochila e encontrei, por sorte, 3 moedas de um real. Ele aceitou o novo preço e me levou até o outro lado.
Munido de minha máquina fotográfica e curiosidade, cheguei às margens da praia. Alguns pescadores, areia meio escura, e uma sensação de decadência. Caminhei vários metros para a direita, mas encontrei pouco encanto. Mato, sujeira, cachorros, alguns homens bebendo aguardente. As poucas casas existentes eram cercadas de grades e algumas com cãos de guarda. Nem pareciam casas de praia.
Segui em frente, procurando boas imagens para fotografar. Encontrei um pedaço de pano com vários rasgos, em fortes movimentos causados pelo vento. No fundo, um sol preguiçoso. Bati duas fotos da cena.
Caminhei um pouco mais, e encontrei uma fila de árvores em tamanho ordenadamente crescentes. Foi a foto que mais gostei.
Encontrei um jovem pescador que, apressado, contou-me a razão de ilha estar tão vazia de gente. "Ainda está cedo, e além disso os turistas gostam de vir no fim de semana". Com uma vara nos ombros, o pescador seguiu em frente, como que não considerando interessante continuar conversando com um turista que fazia perguntas óbvias.
Cheguei então no local onde estavam os diversos bares-restaurantes. E percebi que ali sim é que os turistas ficavam, mas naquela hora do dia havia apenas um casal de namorados e um homem em outra mesa. As dezenas de palmeiras enfileiradas davam o ar turístico ao ambiente. Não pude seguir em frente; precisava voltar ao hotel para o início do evento em que participava.
Ao sentar-se no barco e tomar o caminho de volta à praia, comecei a conversar com Chico, o remador. Ele foi apontando as casas que pertenciam à família do dono de uma empresa de cimento. Casas lindas e com tamanhos desproporcionais às propriedades dos nativos de Mangue Seco. Ao perguntar a ele se o dono das casas ajudava de alguma maneira a população local, ele sorriu e respondeu, com ironia: "ajuda nada. Ele vem nos fins de semana, anda na lancha e vai embora".
Voltei para o hotel com uma incômoda sensação de tristeza. A realidade de desigualdade do país se reproduz em cada espaço local. Uma vez, outra vez, sempre. Mais recentemente, na praia de Mangue Seco.
Curiosamente, fui à praia, mas não molhei os pés. As ondas me convidavam, mas sem razão aparente, não quis. Minhas sandálias continuaram secas, apesar de sujas de areia.
Cometemos o mesmo absurdo. Vamos à praia, tiramos fotos, mas não molhamos pés. Mangue Seco, em decadência, é um recorte de nosso Brasil, desproporcionadamente lindo e desigual.

sábado, julho 04, 2009

Universo revelado

Olhando para dentro, mais do que para os outros, encontro-me com um universo complexo. Vendavais de fantasias, rios de ilusão. Argumentos contra argumentos, num ciclo ininterrupto de tentações e pensamentos.
Há quem destaque a beleza da humanidade - a qual não nego e igualmente me maravilho. Mas não dá para fugir do oculto que há dentro de cada um de nós.
Guerra implacável entre realidade e ilusão, convicções e vícios frustrados. Sangue, morte, ressurreição... O caminho misterioso de Cristo pode iluminar o nosso próprio. Como que sabendo quem somos, ele se submeteu a este universo que há dentro de nós. Sentiu a vida, sentiu-me.
E renasceu, como que em um grito. "Onde está, ó morte, a tua vitória?" Não há vitória para quem está do lado da ilusão.
Penso, então, que o Cristianismo só faz sentido se me revelar a realidade da vida. Fora isso, é conto de fadas. Inevitavelmente, esta revelação ímpar começa na profunda escuridão do universo que há dentro de mim.