quarta-feira, setembro 17, 2008

Um desenho do futuro

Uma paráfrase de Jeremias 31

Deus anuncia um futuro melhor para sua gente, cansada de errar. Um futuro onde é possível viver com dignidade, onde todos agradecem alegremente a ele pelo perdão concedido, usando a criatividade (música, dança...). E isso inclui moças, jovens e velhos (13)!

O futuro que Deus promete ao seu povo é inclusivo – ele vai reunir os que estão espalhados pelos confins da terra, entre eles, cegos, aleijados e mulheres grávidas (8). Ele será o pastor desta comunidade (10).

Sião será uma cidade farta, onde haverá lugares para descanso, um lugar de pessoas satisfeitas com a bondade do Senhor (14). As mães não mais chorarão pelos seus filhos distantes, pois eles voltarão à casa materna (17). Deus também terá seu filho Efraim de volta - o filho que errou, mas se arrependeu (18-20).

No futuro que o Senhor desenhou para seu povo, “uma mulher abraça um guerreiro” (22), o fraco será fortalecido (25) e ninguém vai sofrer pelo pecado do outro, mas apenas pelo seu próprio erro (30).

O futuro que Deus quer para seu povo – e ele chegará – vai existir exatamente porque a vida recomeçará. Porque o Senhor fará uma nova aliança, um novo acordo, um novo pacto com o seu povo (31). Será uma aliança muito depois daquela feita nos dias do Egito. Será um novo tempo e um novo começo. Para Deus, futuro é recomeço.

O conhecimento sobre Deus, sobre a vida e sobre as pessoas será igual a todos, sem necessidade de sacerdotes, mestres, etc. (34)

Estas são palavras do Senhor, que tem autoridade para determinar os movimentos da natureza (35) e para cumprir seus próprios sonhos a toda gente que ele ama.

Que assim seja!

segunda-feira, setembro 08, 2008

Paciência paciente


É preciso ter paciência, mas quem a terá que não espera sua chegada, às vezes, anunciada, outras repentina?
O que se espera, por mais esperado assim, não garante afim do que o coração aguarda.
Espera, então, no que está posto, eternamente dito, pelas linhas da história e do instante, eterno, terno nos lábios do Senhor.
Que esperança é esforço de não estar além do que é, do que ainda não conquistado está, pela certeza de que o rumo escolhido - não trilhado totalmente todavia - é mais do que uma opção:
É promessa feita por ambos, eu e Deus, de que o então rumo escolhido acabou tornando-se a própria vida.

sábado, julho 19, 2008

Poesia na areia


Vento em nós,
Do mar ou do Espírito,
Ambos nos tornam
Vivos...
Na rebeldia de seus movimentos.

sábado, junho 28, 2008

Espejos. Una historia casi universal

Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos nos lembram.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, eles se vão?

Este livro foi escrito para que não partam.
Nestas páginas unem-se o passado e o presente.
Renascem os mortos, os anônimos têm nome:
os homens que ergueram os palácios e os templos de seus amos;
as mulheres, ignoradas por aqueles que ignoram o que temem;
o sul e o oriente do mundo, desprezados por aqueles que desprezam o que ignoram;
os muitos mundos que o mundo contém e esconde;
os pensadores e os que sentem;
os curiosos, condenados por perguntar, e os rebeldes eos perdedores e os lindos loucos que foram e são o sal da terra.

Eduardo Galeano, escritor uruguaio. Este texto é uma apresentação de seu novo livro Espejos. Una historia casi universal.

segunda-feira, junho 16, 2008

Clara e suas lágrimas

Clara veio conversar comigo. Triste, ela contou seu passado. Não que tenha sido infeliz, mas que foi afetada vivamente pelo sofrimento. Não que tenha sido vítima de tragédias particulares ou familiares, mas sim que seu estilo de vida a colocava ao lado de pessoas que sofriam diante da injusta vida.
Clara disse que a pobreza não é problema. O problema é a infelicidade das pessoas diante dela. É possível ser feliz, mesmo sendo pobre. Se engana quem pensa que o pobre precisa da nossa ajuda para ser feliz. Ele (e, em especial, as crianças) tem a capacidade de reinventar a vida no caminho da escassez. E é feliz assim.
Clara tinha em seu coração a frustração por sua mãe não ter conseguido suportar a convivência com a pobreza. Sua mãe, de origem pobre, não admite ter continuado assim. A pobreza é cruel com nossos sonhos. Ela, ao mesmo tempo que os renega, nos torna indignos dele. Com esta face, a pobreza faz mal, muito mal.
Clara não tem medo da pobreza. Se continuar pobre, não será frustrada ou amargurada. Ela tem medo da decadência da humanidade. De saber que muitas pessoas pobres que irá conhecer vão continuar vivendo uma vida medíocre, sem saber ou experimentar uma vida plena (com sentido e propósito). Esta certeza levou Clara às lágrimas enquanto almoçava e conversava conosco.
A conversa com Clara me levou a pensar muito sobre a pobreza, os pobres e o rumo de nossas vidas. Nosso mundo é injusto. Vivemos para nós mesmos, acreditando que isso é o correto, é o justo, é o que todo estudante deve pensar quando planeja o futuro. Viver para os outros é coisa de religiosos ou de gente boba, pensamos.
O choro de Clara não era fruto de uma tristeza egoísta, mimada (prato cheio para os psicólogos). Era o choro de alguém que sempre viveu para os outros, e por isso, que sofre por eles e com eles. Ela está pagando o preço desta escolha. Parece trágico, mas não é.
Clara terminou a conversa dizendo que é feliz, muito feliz. "Apesar de tudo, sei o sentido da minha vida. Mesmo em momentos de sofrimento e privação que passei, sempre soube a razão da minha escolha".
Clara me ensinou muito com suas lágrimas.

quarta-feira, maio 14, 2008

Uma caminhada pelo centro do poder

Dia 14 de maio de 2008. Estou pela primeira vez em Brasília, centro do poder político do país. Depois de um pedido de visto para os EUA fracassado, resolvi caminhar pela frente dos prédios enormes que abrigam os ministérios federais. Visitei primeiramente o Ministério do Desenvolvimento Social e Segurança Alimentar. Fui recebido por uma jornalista a quem pedi informações sobre o trabalho do dito ministério. Com boa vontade e simpatia, ela me deu vários folders e material sobre estatutos de idosos, crianças, etc. e sobre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Li rapidamente algumas coisas e fiquei animado com o que estava no papel. Resta saber se isso é real o suficiente na prática. De dentro do meu coração, me veio um desejo grande de que as Igrejas também se envolvessem com tudo isso.

Depois, passei em frente ao Ministério do Meio Ambiente e li duas faixas de apoio à Marina Silva, assinadas pela Associação dos Funcionários do MMA. Uma delas dizia: "Continue a Luta!". Me dirigi para a porta de entrada do prédio, e por acaso, encontrei Jane Villas Bôas, a assessora de Marina. Ela me reconheceu (eu havia conversado com ela em junho de 2007) e nos saudamos com alegria. Eu disse que soube da demissão da ministra e expressei meu apoio e também da equipe da Editora Ultimato. Ela agradeceu e disse que a demissão da Marina foi uma atitude de "sacrifício necessário para que as vitórias conquistadas não fossem perdidas". Logo após essa frase, ela disse (em outras palavras) que Marina não suportou a incoerência do Governo em apoiar governadores que iam contra a política de meio ambiente que estava sendo defendida e implantada pelo MMA. Com isso, Marina se viu se sustentação do próprio Governo. Lhe restou o "sacrifício necessário" de pedir demissão para continuar lutando no Senado. Nos despedimos com um carinho de irmãos em Cristo, e com a certeza de que a luta continua.

Continuei caminhando. Passei pela bela Catedral Metropolitana de Brasília e pelas 4 estátuas dos 4 autores do Evangelho (Mateus, Lucas, Marcos e João). Igreja e Estado lado a lado. Coincidência? Talvez não. De qualquer forma, entrei no templo e apreciei a maravilha arquitetônica de Niemeyer. Ao lado da catedral, vi 4 sinos grandes doados pela Espanha. Alguns minutos atrás, eu passei ao lado de um ambulante que vendia exatamente sinos (!). Brinquei com ele: "Esses sinos vão ajudar a acordar alguns políticos daqui, hein?". Ele riu economicamente, mas não disse nada (acho que não entendeu a piada).

Mais a frente, ajudei a empurrar um carro sem gasolina. Trabalho em vão. O carro continuou sem gasolina.

Passei em frente à Biblioteca Nacional de Brasília, mas apesar da vontade de entrar, não o fiz, pois precisava chegar na rodoviária.

Sob o sol escaldante da capital federal, vi trabalhadores rurais protestando em frente ao prédio do Ministério do Planejamento. Eles reclamavam que o Governo não cumpriu a promessa de reajuste salarial. Foi o segundo protesto popular que presenciei nos dois dias que estou em Brasília.

Ao entrar no ônibus que iria me levar até a um shopping, vi uma senhora idosa ajudando uma mais idosa ainda a descer do ônibus. Já dentro do lotação, um homem entrou para vender doces. Comprei um pacote, e quando desci do ônibus, também o encontrei lá embaixo. Como havia citado alguns versículos bíblicos para nós, resolvi lhe dar uma revista Ultimato. Ele agradeceu. Depois de um tempo, atravessei a pista e o encontrei numa mesa de um restaurante bebendo uma cerveja e lendo a Ultimato. Feliz da vida!

Agora são 14h15. Às 19 horas volto para Viçosa.

terça-feira, maio 06, 2008

Diálogo imaginário nº 1

Seus pensamentos modificavam-se hora após hora. A viagem incomodava. Dava para perceber. Nos olhos, uma sensação límpida de que não sabia a resposta da minha pergunta. Ele era apenas um jovem estudante. Por que teria que responder? Eu, mais velho, queria testá-lo, mas não imaginava o que viria. Quando veio, quase que me arrependi de ter subestimado sua inteligência.

- Você acredita em Deus?, perguntei.

Não me acanhei em questionar. Isso porque para mim a pergunta era uma maneira de revelar minha superioridade.

Ele, quase gaguejando, soprou uma palavra como se fosse "coração". Dois segundos depois, meu cérebro conseguiu me comunicar que, na verdade, o jovem garoto havia respondido:

- Em você, não.

quarta-feira, abril 23, 2008

Só um pedaço de papel colorido?


Extraído do livro Mere Christianity, de C. S. Lewis

Lembro-me de certa vez quando dei uma palestra para a Força Aérea e que um velho e experiente oficial levantou-se e disse: “Não sei qual a utilidade disso tudo. No entanto, veja bem, eu também sou um homem religioso. Sei que há um Deus. Eu o senti quando estava sozinho, no deserto, à noite: um grande mistério. E esta é precisamente a razão por que eu não acredito nos seus dogmas e nas suas fórmulas reducionistas e bem comportadas sobre Deus. Para qualquer um que já o tenha encontrado, tudo isso parece tão mesquinho, pedante e irreal!”

De certa forma eu até concordei com aquele homem. Penso que ele deve ter tido alguma experiência real com Deus no deserto. E quando ele voltou dessa experiência para os credos cristãos, acredito que ele voltou de algo real para algo menos real. Assim, também, se uma pessoa olha da praia para o Oceano Atlântico e, depois olha o Atlântico no mapa, ele também estará voltando de algo real para alguma coisa menos real: das ondas do mar para um pedaço de papel colorido. Mas é aí que está o ponto. O mapa é reconhecidamente um pedaço de papel colorido, mas há duas coisas que você deve lembrar. Primeiro, ele é baseado no que milhares de pessoas descobriram navegando o Atlântico de verdade. Dessa forma, um indivíduo tem atrás de si milhares de experiências tão reais quanto a que você poderia ter tido na praia; com a diferença de que, enquanto a sua seria um vislumbre único, o mapa dá conta de todas as variadas experiências juntas. Segundo, se você quer chegar a algum lugar, o mapa é absolutamente necessário. Para quem está interessado em apenas fazer algumas caminhadas na praia, a visão de tudo é muito mais agradável do que olhar para um mapa. Acontece que o mapa terá mais utilidade do que as caminhadas pela praia se você desejar chegar a outro continente.

Agora, a teologia é como um mapa – nada mais é do que aprender e pensar sobre as doutrinas cristãs. Ficar nisso, é menos real e menos emocionante do que o que aconteceu com o meu amigo no deserto. As doutrinas não são Deus; elas não passam de uma espécie de mapa. Acontece que esse mapa é baseado na experiência de centenas de pessoas que realmente estiveram em contato com Deus; experiências comparadas com quaisquer emoções ou sentimentos piedosos que você e eu poderíamos experimentar, considerados elementares e até confusos. Em segundo lugar, se você quiser chegar mais longe, terá que usar o mapa. Veja bem, o que aconteceu com aquele homem no deserto pode ter sido verdadeiro, e certamente foi empolgante, mas isso não resulta em nada. Não há nada que se possa fazer a respeito. Na verdade, eis aí arazão por que uma religião vaga, algo como sentir Deus nanatureza e assim por diante, é tão atraente. É só emoção, sem qualquer trabalho; é como observar as ondas do mar a partir da praia. Mas você jamais chegará a outro continente estudando o Oceano Atlântico dessa maneira, e jamais obterá vida eterna só de sentir a presença de Deus nas flores ou na música. Nem chegará a lugar algum apenas olhando os mapas, sem ir para o mar. Tampouco estará seguro se entrar no mar sem um mapa.

segunda-feira, abril 21, 2008

Jornalismo e sua vã maneira de viver

Sou jornalista por formação, e, naturalmente, tenho amigos jornalistas. Bem da verdade, já faz tempo que não exerço a profissão em uma redação diária convencional. Não vivo mais aquela tensão de todos os dias em busca de notícias. Confesso: às vezes, sinto um pouco de saudades, apesar de ter vivido algumas insatisfações no meio.

Por isso, me ponho a refletir um pouco sobre nossa atuação diante dos fatos recentes. Nos últimos dias, o Brasil está ouvindo uma espécie de "música de uma nota só": o caso da morte trágica da menina Isabella. É realmente inaceitável o que aconteceu. No entanto, olho com preocupação o papel da mídia.

Apesar do ceticismo característico, vez ou outra os jornalistas (ou os jornais?) se convencem de que podem espurgar o mal. Para isso, basta mostrá-lo repetidamente, e cada vez mais. Como nossa formação existencial (talvez não tão convicta assim) se relaciona com a existência do mal (ou da maldade)? Como nós, jornalistas, podemos analisar com honestidade que nosso humanismo ingênuo não é suficiente para explicar a realidade? Somos amigos ou inimigos do mal? O que ele significa para nós?

Não quero pensar o pior: que os jornais se aproveitam do caso Isabella para aumentar a audiência de seus programas e meios. É fato que isso realmente aconteceu (o aumento da audiência). No entanto, sei que muitos jornalistas o fazem movidos por uma - talvez inesperada - indignação. Outros, é verdade, não sentem nada, a não ser o dever de divulgar mais uma notícia. Os donos de jornais, esses sim, pensam mais na audiência.

É incoerente também constatar que mesmo dando tanta importância a fatos como este, a mídia os ignora posteriormente como se ignorasse um filme repetido. Tanta relevância deveria gerar mais compromisso dos meios de comunicação, não acham? Ou a história só existe enquanto a telas dos jornais a exibem? Um drama não pode ser contido no tamanho de uma lauda. Ele vai além da nossa habilidade de formular frases e de nossa capacidade de concisão.

Não quero acreditar também que a mídia brinca com a realidade. Ela não pode ser um garoto arteiro que maltrata o gatinho de casa só para ouvir os gritos do animal e para sentir-se mais poderoso. Violência e morte de crianças é uma realidade cruel em nosso país. Acontecem todos os dias, principalmente nos lugares mais pobres. Agora me digam: por que suas histórias também não são contadas? Quem determina a pauta? Quais os critérios? Quais objetivos? Quem se importa com o acontece com pessoas pobres nos rincões do nosso país?

Vale aqui pararmos para pensar como anda nossa ética como jornalistas. O que nos resta neste famigerado mundo de notícias, correria e descrições rápidas? Quais nossos valores reais? O que nos move? Perguntas que podem nos ajudar a escrever a próxima notícia.


domingo, março 30, 2008

De tudo que vivo...



Senhor,
De tudo que sinto, vem sempre uma sensação de incompletude. Por tempos, achei que era incoerência espiritual. Hoje, sei que é tua glória infindável visitando, que não alcanço por mais obediente que eu seja.


De tudo que vejo, há sempre um olhar misterioso que não cabe nas cores – mesmo todas elas reunidas e intensificadas pelo sol do meio-dia। Esse olhar que não defino é teu... por mim... pelo outro que não vejo... pelo povo que te segue. Olhar de compaixão.


De tudo que sei, não sei como se move o tempo. Não sei como vivem e viveram todos em todas as eras. Não sei por que ainda brota diariamente a esperança do melhor, da bondade, da existência além do que existe. Não sei. E esta ignorância me é guia em direção à verdade.


De tudo que faço, há sempre um horizonte maior, mais forte que toda a minha força। Há sempre movimento. Além do meu controle. Há sempre Tu fazendo algo mais sublime. Porque da fonte vem minha força, não de mim mesmo.


De tudo que vivo, há sempre um caminho além a percorrer. Das surpresas de hoje, há sempre um novo nascimento. Há sempre uma criança sorrindo para mim. Dela, vem a prova de que a realidade é maior que minha vida. De que a salvação está no recomeço, e de que o recomeço está na salvação.


Amém.

segunda-feira, março 24, 2008

terça-feira, março 18, 2008

A Primeira Páscoa (uma paráfrase)




Na sala empoeirada, euforia. Arrumando a bagagem, a mãe não sabia como fazê-la. Sua geração não estava acostumada com tal tarefa. O pai, apressado, preparava o fogareiro, juntando brasas e soprando o vento para o mesmo local. O menino brincava com o cordeirinho, lindo, em seus últimos momentos de vida. Já haviam se tornado amigos naqueles quatro longos dias. No coração da criança, a dúvida: por que ele tem que morrer? O que ele fez de mal?

A dita euforia combinava com o cheiro da liberdade. Toda a família sentia o mesmo odor. Parecia um sonho. Sairemos do Egito e iremos para a nossa terra.

O amargo das ervas era como uma despedida irônica dos séculos de sofrimento que nenhuma língua gostaria de provar. E que mesmo assim não deveriam ser esquecidos.

A noite seria longa, e infelizmente fúnebre. Mesmo com o barulho de arrumação nas casas vizinhas, ainda assim havia um silêncio estranho no ar. De alguma forma, tudo aquilo estava interligado: a bagagem, o cordeiro, o fogo, as ervas amargadas, o pão sem fermento, o medo da morte, o sonho de liberdade, a fé no Senhor.

Tudo começava a fazer sentido na medida em que fazíamos o que Ele ordenara por meio de Moisés e de Arão. Tínhamos uma firmeza nunca antes vista. Até o faraó se surpreendeu conosco. De escravos nos transformamos em revolucionários. De submissos éramos vistos como subversivos.

Mais importante do que isso, no entanto, era o momento solene do holocausto. Nossa identidade estava ali, naquele altar. Um cordeiro morto, sofrendo em nosso lugar, servindo de alimento para nossa humanidade, para nossa necessidade de sobreviver. Não tínhamos idéia, mas nossa história começava a ser contada realmente, concretamente. Era apenas o começo de uma caminhada que duraria para sempre e transformaria o mundo.

[Relato da primeira páscoa. Baseado em Êxodo 12.1-11]

domingo, janeiro 27, 2008

Início de algo mais


Semeador que sai a semear
Espera flores no final
Na semente, olhos a brilhar,
Que todo sonho é real

A terra é seu mundo,
Cheio de grãos, tons, sinais
Com amor bem fundo,
Planta o início de algo mais

sábado, janeiro 05, 2008

Canto

Que canto é esse que

de tão forte, norte?


Canto no canto

de meu coração, morada.


Notas de uma canção livre,

Ventania que passa,

Fazendo rir o rosto do menino.


Canto acalanto,

Por entre os dedos, desejos

De uma vida simples,

Onde o canto ainda é ouvido.


Deus é o canto

de tudo que há.

Santo, canto.