domingo, dezembro 24, 2006

O Natal e suas mensagens

“Qualquer que em meu nome receber uma destas crianças, a mim me recebe; e qualquer que me recebe a mim, recebe não a mim, mas àquele que me enviou.” Mc 9.37

Segundo Lucas, Jesus Cristo nasceu em uma manjedoura porque não havia lugar para ele nas estalagens. O Deus que acolhe não foi acolhido. O mesmo se repete hoje, nos lares de nossa sociedade individualista.

A mensagem principal do Deus-menino está sendo engolida nos corações humanos, a contra-gotas, pela mensagem mesquinha do deus-mercado. Saiba, há grandes diferenças entre ambas.

A mensagem do Deus-menino diz que a verdade é uma pessoa, que a verdade é libertadora e acolhedora, e que, ao confrontar-se com ela, o ser humano compreende que ele vale mais pelo que é do que pelo que consome.

A mensagem do deus-mercado prega que tudo é aceitável, desde que gere lucro financeiro. Ela diz que o ser humano vale mais pelo que consome do que pelo que realmente é. A "verdade" (lê-se "satisfação") está escondida em alguma bela roupa ou em um novo modelo automobilístico.

Entre uma mensagem e outra, há um abismo imenso. Não dá pra reconciliar a duas. Uma se opõe à outra. Enquanto a mensagem do Deus-menino nos propõe vida eterna e abundante, alegria baseada no amor, a mensagem do deus-mercado ensina que o importante é viver o aqui e agora e que os fins justificam os meios.

Ao contrário do que muitos pensam, não devemos ignorar a importância do dia 25 de dezembro. Ele é uma bela oportunidade (talvez a maior) para colocarmos essas duas propostas de vida em confronto direto.

Qual a nossa expectativa para este Natal? Firmar nossa identidade para o próximo ano na quantidade de coisas que compramos? Ou fortalecer quem somos na mensagem do Deus que acolhe?

Qual realmente é a nossa proposta de vida? Que diferença faz acreditarmos em um Deus que se fez carne e a habitou entre nós? Como isso transforma nossa liberdade de escolha?

Que o verdadeiro Espírito (com letra maiúscula) do Natal molde o nosso espírito e renove a nossa mente para o ano que chega.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Nossa realidade

Um quarto da riqueza do país ficou concentrada em apenas dez municípios em 2004, diz IBGE

A geração de riquezas do país ainda é fortemente concentrada em poucos municípios, segundo revelam os dados do Produto Interno Bruto (PIB) dos 5.560 municípios brasileiros de 2004 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Do total do PIB brasileiro de 2004, 25% ficou concentrado em apenas dez municípios. Em 1999, esta fatia correspondia ao PIB de sete municípios.

O instituto também apurou a continuidade da perda de peso de capitais no PIB do país, cedendo lugar aos municípios menores em termos populacionais.

De 2003 para 2004, o município de Macaé (RJ) entrou no ranking, ocupando a oitava posição. Sua entrada foi impulsionada pela indústria de petróleo local, que além de ter registrado alta de preço do produto no período, gerou mais riquezas com a valorização dos equipamentos ligados ao segmento.

Em compensação, Porto Alegre deixou a lista das dez maiores economias municipais e passou a ocupar o 13º lugar.

O ranking, em ordem decrescente, é composto por São Paulo, Rio, Brasília, Manaus, Belo Horizonte, Campos dos Goytacazes (RJ), Curitiba, Macaé (RJ), Guarulhos (SP) e Duque de Caxias (RJ). São Paulo respondeu por 9,09% do PIB do país, enquanto o Rio detinha 4,19%.

Já os cinco municípios com menor PIB em 2004 foram São Félix do Tocantins (TO), Santo Antônio dos Milagres (PI), São Miguel da Baixa Grande (PI), Ipueiras (TO) e Oliveira de Fátima (TO). Juntos, eles representavam somente 0,001% do PIB brasileiro.

A pesquisa, no entanto, mostra que 52,8% do PIB do país em 2004 estava fora do entorno dos centros urbanos, percentual maior ao apurado no ano anterior, de 49,4%. No Sudeste, o dinamismo econômico fora dos centros está relacionado à extração de petróleo e à agroindústria

Na região Sul, a economia fora dos centros urbanos foi puxada pelas indústrias automotiva e de fertilizantes, pelo porto de Paranaguá e ainda pela indústria têxtil do Vale do Itajaí. O dinamismo da economia nordestina está ligado aos serviços e à agropecuária.

No Norte, o destaque fora dos centros urbanos ficou para a indústria de minérios.

(Ana Paula Grabois Valor Online)

_____________________________________________________
Comentário: E a desigualdade econômica persiste, forte como o sol brasileiro.


quarta-feira, dezembro 06, 2006

Como dividimos o bolo

Quase metade da riqueza do mundo está concentrada com 1% da população

SÃO PAULO - Para sair da metade da população mundial que representa os mais pobres do planeta, é necessário um patrimônio líquido de aproximadamente US$ 2.200,00 por adulto na família.

A informação consta em estudo da Universidade das Nações Unidas, órgão da ONU, que foi divulgado nesta terça-feira (05).

De acordo com o levantamento, cerca de 40% de toda a riqueza global está concentrada nas mãos de 1% das pessoas consideradas ricas no planeta. Na outra ponta, a metade mais pobre da população mundial é dona de 1% da riqueza.

O estudo leva em consideração os principais componentes do local, como ativos e passivos financeiros, terra, prédios e outras propriedades, envolvendo todos os países do mundo.

Segundo o levantamento, em 2000, um casal precisava de um patrimônio de US$ 1 milhão para estar entre o 1% de mais ricos do mundo, grupo que reúne 37 milhões de pessoas.

Apesar de que os países da América do Norte só possuem 6% da população adulta mundial, 34% da riqueza está concentrada na região. Em seguida, aparecem Europa e as nações mais desenvolvidas da Ásia e Pacífico, onde a população, junto com a América do Norte, soma 90% do total da riqueza global.

Por outro lado, a riqueza dos habitantes da África, China, Índia e outros países com menos investimentos da Ásia é consideravelmente menor na comparação com o tamanho da população.

*******

A ideologia do mundo é egoísta. O coração do mundo é seco. Por mais que haja ações solidárias, estes dados mostram que ainda é preciso haver uma grande transformação em nossa sociedade. Quando olhamos para Cristo e a maneira como viveu neste mundo, percebemos o contra-senso de como vivemos em nosso mundo hoje.

Ouvindo a América Latina

Estou desde o dia 04, na Colômbia (cidade de Paipa). Participo de um encontro latino-americano sobre infância e igreja.

Tem sido muito interessante ouvir os irmãos e irmãs de outros países da América Latina. Eles têm muito o que nos ensinar, especialmente em como viver o evangelho diante dos problemas que nosso continente enfrenta hoje. Eles estão fazendo uma teologia muito mais concreta para o nosso dia-a-dia do que nós, brasileiros. Aliás, nós somos muito distantes deles (talvez, por um certo preconceito ou orgulho).

Muitas igrejas da América Latina enfrentam poderes opressores em seus países, violência cometidas por verdadeiros governos paralelos (o que chamados de "governo paralelo" no Brasil nem se compara!), pobreza extrema e abuso contra crianças e adolescentes em risco. E ao contrário de muitos pentecostais do Brasil (e tradicionais também), os daqui são muito mais ativos, articulados politicamente e conscientes da realidade.

Precisamos nos aproximar de nossos "hermanos", ouvir suas histórias, aprender com eles e renovar nossa espiritualidade olhando para a deles. Precisamos sair de nosso "berço esplêndido", que de esplêndido não tem nada.

sábado, novembro 25, 2006

(...)

E quando o silêncio é maior que todas as palavras juntas? O que fazer?
(...)

Que é a vida?

“Que é a vida? Vocês são como uma neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa”. Tiago 4.14b

quinta-feira, novembro 16, 2006

Dia

Não que eu possa olhar, mas vejo.
Máquinas, campos, trilhos;
E o próximo é horizonte,
E o anterior é sonho.

Não que eu possa sentir, mas sofro.
Lágrimas, riscos, ausência;
Bala que perfura lentamente
Pelos risos mortos.

Não que eu possa entender, mas creio.
Cruzes, sacrifícios, orações;
Transcendente em mim,
Pela certeza do que não se vê.

Não que eu seja, mas vivo.
Não que eu esteja, mas existo.
Não que eu caminhe, mas apresso-me.

Foi o sorriso largo do sol que me despertou.


Escrita em 04 de novembro de 2006.
Viçosa (MG)

sábado, outubro 07, 2006

Um silêncio

Hoje, sábado. Noite de lua, dia outrora cheio de barulho, atividades e sorrisos. Agora, os músculos começam desacelerar seus movimentos. Semana que finda, entre viagem longa e enfrentamento da rotina diária.
Nas duas últimas semanas, estive na Malásia. Participei de um encontro para jovens de mais de 100 países. Foi uma experiência fascinante.
Entre horas e horas de viagem aérea e os encontros com novas pessoas, havia sempre uma espécie de silêncio chegando até mim - um mero calar de vozes, efêmero, quase imperceptível. Era do silêncio que eu ouvia as melhores lições. Era do estático momento que eu me via e percebia claramente as palavras de quem há muito já conversava comigo.
Eu ouvi, e ainda me lembro do que ouvi. Era o contra-senso do mundo. Eram verdades antigas, mas revelantes ainda. Era o convite para que meu coração se inclinasse novamente.
Entre as palavras doces que me vieram, ouvi sobre humildade, esforço, perseverança, estilo de vida. Ouvi que preciso rever minha caminhada e que devo assumir minhas responsabilidades. Ouvi de Deus sobre amor e perdição. Foi claro ao dizer que a Ele pertence a salvação, seja eu como for ou quem seja. O que me resta senão outro silêncio - agora o humano?
Silêncio abençoado, surpreendente.
Será que verdadeira história é feita de hiatos?

domingo, setembro 17, 2006

Um copo dágua

Hoje conheci um homem de 36 anos, doente. Chama-se Olair. Há poucos dias, ele estava na UTI, com crise profunda nos rins.
Ele dizia que nos tempos que passou no hospital, o que o incomodou não foi a dor, mas a sede.
Devido a doença, Olair não podia consumir muito líquido. Os médicos lhe davam um copo muito pequeno com água. Essa quantidade era para a metade de um dia. Ele tinha tanta sede que chegou a beber a água e depois cuspi-la no copo, só para num outro momento molhar a língua de novo.
Fiquei comovido com o drama daquele homem de família que não consegue mais trabalhar, e mesmo assim ainda não foi aposentado por invalidez.
Lembrei de Jesus - quando crucificado e muito sedento - recebeu apenas vinho visturado com fel. De tão amargo que era, ele não conseguiu engolir o líquido.
Lembrei também do encontro do mesmo Jesus com a samaritana emocionalmente frágil. Ele lhe pediu água do poço de Jacó. A mulher - presa pelas tradições religiosas e inferiorizada pelo preconceito dos judeus - não conseguiu servi-lo. Jesus, por sua vez, não apenas curou aquela mulher de todas as suas feridas emocionais e espirituais, como lhe concedeu a "água viva" que transforma vidas secas como a dela em "fontes que jorram eternamente".
Aquele homem com quem conversei hoje me ensinou a dar valor a um simples copo d'água. Enquanto anseio poder, controle e sucesso, ele quer apenas voltar a trabalhar e beber o tanto de água que desejar.
O outro homem (Jesus) me ensinou que não há vida tão seca que não possa ser transformada em um cachoeira que não se finda.

O meu querido irmão André descobriu esses dias que o câncer não o deixou. Estamos muito tristes. Porém, de alguma forma (que não sei explicar) o Cristo nos consola, nos revela verdades e nos faz ver outros horizontes.

A vida faz mais sentido para mim depois do drama do André, assim como um copo d'água faz mais sentido depois da conversa com o Olacir.

Não sei por que, mas a escuridão sempre vem antes do amanhecer.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Corrupção e egoísmo

Para mim, o mais difícil é manter-me fiel ao que creio. Minhas incoerências me deixam cansado. Mas é aí que olho para o "autor e consumador da nossa fé: Jesus". Olho, mas ainda assim devo ter cuidado para não afundar, como Pedro quando andava sobre as águas.
O coração humano é por demais corrupto. E nossas relações são terrivelmente afetadas por isso. Desejamos felicidade, mas domesticamos nossos ódios e rancores. Ansiamos por paz, mas nossa boca não sabe pronunciar nada mais que insinuações, veneno, palavras ferinas e sem piedade. Lutamos por sucesso, mas não queremos caminhar com honestidade, porque já escolhemos o atalho da simulação.
No final, nossos olhos já estão tão sujos que nos tornamos míopes (enxergamos apenas vultos). Estão tão condicionados que não enxergamos mais as verdadeiras cores da vida.
No final, nossas atitudes estão presas em nosso próprio egoísmo. Agimos por nós mesmos; pensamos, raciocinamos, decidimos, escolhemos por uma única razão: nosso próprio bem-estar. E então nos isolamos - cada dia mais.
O que consola é que o Cristianismo tem como base os relacionamentos (com Deus e com os outros). Assim, acreditamos que a cada encontro pode haver transformação. E a cada transformação, pode ocorrer mais transformações. E assim por diante...
Deus nos capacita para redimirmos os relacionamentos com os outros quando buscamos a plenitude do relacionamento com Ele mesmo.
Sigamos em frente... na esperança do Mestre.
Em oração,
Lissânder

segunda-feira, agosto 07, 2006

Somos revolucionários

Estou lendo um livro do jornalista Zuenir Ventura. Em um dos capítulos, ele cita a seguinte frase de um outro escritor: "A verdade é revolucionária".
Infelizmente, nós, cristãos, estamos esquecendo disso. Somos revolucionários. Não do tipo que adere à violência. Se se assim for, nossa atitude não é nada revolucionária, pois este modelo não funciona e não é novo.
Somos revolucionários porque vivemos o Evangelho de Cristo. Vivemos um proposta de vida que transformou (e vem transformando) o mundo. Vivemos a proposta dos "bem-aventurados" (Mt 5): a revolução do amor e da justiça.
Vivemos o "Evangelho às avessas", onde o último será o primeiro, a criança é o modelo de espiritualidade para os adultos, o louco é o são, o fraco é o forte e a morte é o caminho da ressurreição e da vida.
Temos o tesouro em nossas mãos. Somos do Deus Criador. Fazemos parte de um Reino.
O que estamos esperando?
Sigamos o Caminho, dispostos a nos doar, pois, afinal, o sal e a luz somos nós mesmos.

sábado, junho 17, 2006

Fé e poder

Reúno-me semanalmente com um grupo de pessoas simples em uma pequena cidade de cerca de 1o mil habitantes, chamada Teixeiras. O bairro onde moram é bem pobre e suas casas têm quase sempre vestígios de improviso. Seus moradores, inclusive, estão sofrendo nestes dias porque não têm roupas para afugentar o frio.

Nos reunimos sempre para estudar a vida de Jesus Cristo. Interessante saber que pessoas - na maioria, rejeitadas pela sociedade por serem pobres - podem expressar suas idéias sobre a vida e interpretar textos antigos e difíceis.

Nesta quinta-feira, 15 de junho, lemos juntos um texto que descreve o fato em que Jesus acalma um vendaval que aflingia as pessoas que viajavam no mesmo barco que ele. Falar que Jesus é poderoso e que tem controle sobre a natureza é óbvio diante deste texto. Mas este mesmo texto pode nos ensinar lições preciosas sobre o que é poder e como ele deve ser usado.

Entre perguntas e respostas, refletimos juntos sobre nossos poderes. Concordamos que todos, de uma forma ou de outra, temos poder sobre pessoas e coisas: sobre filhos, empregados, situações, escolhas...

A grande questão é saber como usamos nossos poderes. Resolvemos, então, olhar para o exemplo de Jesus. Ele recebeu poder de Deus "não para ser servido, mas para servir", como relata Marcos 10.43-45. Jesus acalmou a tempestade, não para mostrar seu poder sobre tudo e todos (isso será feito no tempo certo, segundo Fp 2.9-11), mas para fortalecer a fé dos seus amigos ("onde está a sua fé?", ele disse).

Fé e poder estão mais próximos do que imaginamos. Maquiavel dizia em seu famigerado e conhecido "O Príncipe" que os principados eclesiásticos mantém-se porque são sustentados pela "rotina da religião". Disse Maquiavel:

"As suas instituições [dos principados eclesiásticos] tornam-se tão fortes e de tal natureza que sustentam os seus príncipes no poder, vivem e procedem eles bem como entendem. Só estes possuem Estados e não os defendem; só estes possuem súditos que não governam. E os seus Estados, apesar de indefesos, não lhes são arrebatados; os súditos, embora não sejam governados, nã0 cuidam de alijar o príncipe nem o podem fazer. Somente esses principados, portanto, são por natureza, seguros e felizes." (capítulo XI, páragrafo 1).

Claro, Maquiavel estava se referindo aos líderes religiosos do século XVI. Mas talvez possamos pegar emprestada sua reflexão para nos ajudar a analisar as práticas do poder no século XXI.

Dos governantes (políticos ou religiosos) aos simples moradores de um bairro pobre da uma pequeninha cidade mineira... todos precisam aprender a lidar com o poder que têm. Isso é algo urgente!

Jesus nos ensina que o poder só tem sentido se é usado para servir o outro. O poder não deve ser usado para oprimir, auto-glorificar ou construir "castelos de vento". O poder deve ser usado para restabelecer o equilíbrio, proteger o indefeso e estabelecer a justiça.

Para nós, cristãos, a fé que temos deve ser o instrumento harmonizador no uso do poder. Cremos que todo o poder que temos, na verdade, foi dado por Deus, através do Espírito Santo. Atos 1.8 avisou que o poder do Espírito desceria sobre nós para que fôssemos testemunhas de Jesus, "tanto em Jerusalém quanto em Judéia e Samaria, e até os confins da terra". Não é para sermos líderes déspotas e egocêntricos; é para sermos simplesmente testemunhas de alguém que é maior que nós. Testemunha fala e mostra a verdade. Só isso (e tudo isso).

Eu e o grupo de pessoas reunidas naquela fria quinta-feira, terminamos nosso encontro com pequenos sorrisos nos lábios. Parece que havíamos descoberto algo muito precioso. Talvez eles nuncam tenham pensado que possuíam poder. Talvez eu nunca tenha pensado isso até aquele dia.

O sentimento que carregamos conosco, ao final da reunião, foi de que o poder é um presente muito sério e de que se ele for usado corretamente fará muito bem a todos.

terça-feira, maio 09, 2006

A humanidade da morte

Nenhuma vida é completa até que haja morte. A morte marca o limite. Ser humano é morrer. Ao morrermos, atestamos nossa humanidade. A morte aprova, mais do que encerra, a nossa humanidade.
A tentação original reside em tentarmos ser iguais a Deus (Gn 3.5). A advertência original é que, se tentarmos fazê-lo, morreremos (Gn 3.3). A morte protege e garante nossa humanidade. Nossa tentativa de sermos mais, ou diferentes, do que é o humano (que é a marca comum do pecado) faz com que nos tornemos menos que humanos. Nesse sentido, a morte age de maneira a evitar nossa desumanização.
Por isso, saber viver envolve necessariamente uma boa dose de meditação e consideração sobre a morte. Se não dermos a devida atenção à morte, mas vivermos a todo instante evitando ou obscurecendo o assunto com eufemismos, restringimos nossa vida. Ao negarmos a morte, evitamos a vida. É significativo o fato de que, ao nos contar a história de Jesus – história que tem mais vida do que qualquer outra – os quatro evangelistas nos informem mais detalhes de sua morte do que de qualquer outra fase de sua vida.

Perterson, Eugene. Transpondo Muralhas. Editorial Habacuc. Rio de Janeiro: 2004, pág 274.

terça-feira, março 28, 2006

Carta a um amigo do peito

Prezado amigo,

Acho que um dos maiores prejuízos quando pecamos (além, é claro, da quebra de comunhão com Deus), é a visão distorcida sobre quem somos e sobre o potencial que Deus nos deu. Tenho percebido isso em minha vida.

Quanto mais eu peco, tenho menos clareza sobre a noção do que sou (identidade) e do que Deus quer que eu seja (vocação). Aí então fico pensando que não sou capaz, que estou enganando as pessoas, que estou no caminho errado...

Para mim, a única solução para isso é desfrutar profundamente da graça de Deus. Ela é o único combustível para caminharmos. Sem ela, fica tudo sem sentido: a caminhada é longa demais, o cansaço é muito grande e os problemas são bem mais numerosos que as soluções.

Uma coisa eu sei: pela fé, Deus me ama e quer que eu descubra toda a riqueza que ele me deu. Às vezes, essa riqueza está na minha fraqueza; às vezes, na minha sinceridade; às vezes, na capacidade de começar tudo de novo.. e etc.

Por tudo isso, vale a pena continuar.

Que Deus nos oriente.

Em Cristo,

Lissânder

quinta-feira, março 09, 2006

Maldade

A relação entre a maldade e a bondade é estranha porque, como são antitéticas, deveriam se anular mutuamente, como matéria e anti-matéria, o que tornaria a existência uma impossibilidade.

Entretanto, a maldade tornou-se dependente da bondade.

Para, quem quer que seja, cometer maldade é preciso existir, desejar, decidir e implementar. Tanto existir como desejar, decidir e implementar são coisas boas em si. Para praticar a maldade é preciso lançar mäo de atributos da bondade e subvertê-los.

Não se pode falar de equilíbrio, porque este exige que o fiel da balança se mantenha no meio, o que determina que não haja encontro entre os opostos. Encontro soma ou provoca mútua anulação.

Algo necessariamente exógeno interferiu e alterou a relação entre elementos antitéticos por definição.

Ariovaldo Ramos (retirado do seu blog pessoal)
http://ariovaldoramos.zip.net/index.html

quinta-feira, março 02, 2006

Frase legal

"O conhecimento não liberta o homem, apenas aumenta seu poder - um poder que pode ser usado para o bem ou para o mal. Nesse ponto, sou um pessimista: o futuro da humanidade será igual a seu passado, só que com mais conhecimento."

John Gray (citado na revista Ultimato, nº299)

www.ultimato.com.br

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Tesouro real

Há de ser ter mais coragem!
Coração selvagem, cavalgando pelas florestas obtusas, lindas.

Há de se ter vivência!
Acordar bem cedo e enfrentar cada respiração é o segredo da vida.

Não tenho fórmulas. Tenho um caminho.
Não tenho a felicidade. Tenho montanhas e desfiladeiros que escondem os momentos mais preciosos de um ser humano (que alguns simplificam, denominando-os de "felicidade").

Tenho um copo d'água limpa.
Tenho um cavalo.
Tenho um pedaço de pão.
Tenho uma companheira. Sorrimos juntos.
Tenho um Pai. Sorrimos juntos.

Há de se ter coragem!

Há de se ter olhos de criança para enxergar o que se tem.
Há de se ter mãos de criança para receber o Reino.
O restante é ilusão.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Tarde quente. Entre os sons do rádio e do ventilador, tento entender minhas atitudes.
Braços largos, coluna vertebral irregular. E o tempo vai passando, enquanto contabilizo qualidades e quantidades.
Minhas palavras são lidas pelo silêncio. O que mais basta?
Minhas heranças são pedras sobre caminhos improvisados.
Nada mais se espera além do simples. Do básico. Do real.
O que vier é surpresa aceitável ou tragédia enfrentada.

Tarde de segunda-feira. Dia de trabalho.

Diálogo sobre a bondade

- Mas o que virá, então?
- Talvez, um caminho mais longo, o medo mais pavoroso...
- Não fale assim! Acabo pensando que a bondade é ilusão!
- E não é, oras!?
- Claro que não! Se assim fosse, como poderíamos continuar vivendo? O que poderia existir se a Bondade não existisse?
- Hum...
- Muitos duvidam da existência de Deus porque o mal existe. Eu creio em Deus exatamente porque o Bem existe.
- Hum... hum...

Paiol da Aurora

VI.
Viver é estar acordado
e acordar. E comer
o pão, beber a branca
alegria, deitar
com as lavas.

E no tempo ajustado
pela alma, erguer
as asas.
(...)


VII.
Os olhos voarão,
os braços e os pés
voarão.

E pela sacada
de mel, não há
alma que não voe.

E o céu coado
entorna fluvo,
uivo: em decibéis,
como um tonel,
o anel intransponível
de gaivotas.


VIII.
A roda de Deus
nos toca.
E vives
com um ramo
de amanhecer
na boca.

Trechos do poema Paiol da Aurora, de Carlos Nejar.

sábado, fevereiro 18, 2006

Asas

Peço-te asas.
Para voar e ver tudo que não enxergo daqui. Para limpar meus pés da lama de ontem.
Que minha fraqueza de hoje seja minha força amanhã.
Pelo poder do teu Espírito, peço-te asas.
Asas para voar pelos montes demasiadamente altos. Eles estão em meus sonhos, mas não posso tocá-los.
Não quero asas de anjos. Sim, que sejam de humanos sem rumo. Eles sabem exatamente o que lhes falta.
Peço-te o que me falta: asas.

sábado, janeiro 21, 2006

Utopia possível

Sabe qual o meu sonho desde 2005? É imaginar um mundo de partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano. No qual a dor de um seja o cuidado do outro. Em que as portas das casas não tenham trancas, ninguém caminhe com medo pelas ruas, a todos estejam assegurados os mesmos direitos e oportunidades. Uma civilização do amor, onde todos vivam como irmãos e irmãs, em torno da mesa da comunhão de bens e de espírito, de modo que Deus possa ser verdadeiramente louvado como Pai Nosso.
Frei Betto, em "Carta ao Arqueólogo do Futuro".

domingo, janeiro 08, 2006

Um pequena crônica

Janela ao sol. Estico o pescoço com dificuldades e olho para fora. Pessoas apressadas, buzinas, olhares fugidios.
Ouço vozes, muitas. Desconexas, sem fim nem começo.
Sinto cheiros estranhos. Não há mais o que se provar. Não há mais gostos, apenas releituras bizarras. Fedor.
Os toques são sempre involuntários. Esbarros. Ninguém teve a intenção. O emaranhado das relações parece mais novelos de lã embaraçados. Ninguém sabe onde tudo começa.
Estou cansado, minha vista dói. Não suporto mais essa confusão.
Encolho o pescoço, fecho a janela, olho para o quarto. O espelho no fundo revela-me. Descubro, então, que eu estava dentro de mim.

Captura impossível

O que é a Palavra senão o Verbo?
O que a fundamenta senão quem a profere?
Fora da Palavra não há realidade, não há caminho, não há verdade, não há vida.
A Palavra é o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. A Palavra é uma pessoa. Ela não pode ser relativa porque não é algo, mas alguém.
Portanto, é ínutil capturar a Verdade. Como água escorrendo pelos dedos, é impossível contê-la.
Ansiamos aprisionar o vento. Como? Que sonho, ilusão, utopia!
O que nos cabe é o que a boca do Senhor nos confere. Nada mais, nada menos.

Realidade

"Deus é a maior realidade que existe".
Ariovaldo Ramos, teólogo e filósofo brasileiro.