Nenhuma vida é completa até que haja morte. A morte marca o limite. Ser humano é morrer. Ao morrermos, atestamos nossa humanidade. A morte aprova, mais do que encerra, a nossa humanidade.
A tentação original reside em tentarmos ser iguais a Deus (Gn 3.5). A advertência original é que, se tentarmos fazê-lo, morreremos (Gn 3.3). A morte protege e garante nossa humanidade. Nossa tentativa de sermos mais, ou diferentes, do que é o humano (que é a marca comum do pecado) faz com que nos tornemos menos que humanos. Nesse sentido, a morte age de maneira a evitar nossa desumanização.
Por isso, saber viver envolve necessariamente uma boa dose de meditação e consideração sobre a morte. Se não dermos a devida atenção à morte, mas vivermos a todo instante evitando ou obscurecendo o assunto com eufemismos, restringimos nossa vida. Ao negarmos a morte, evitamos a vida. É significativo o fato de que, ao nos contar a história de Jesus – história que tem mais vida do que qualquer outra – os quatro evangelistas nos informem mais detalhes de sua morte do que de qualquer outra fase de sua vida.
Perterson, Eugene. Transpondo Muralhas. Editorial Habacuc. Rio de Janeiro: 2004, pág 274.
terça-feira, maio 09, 2006
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