Não é natural sair de casa. Exatamente a segunda metade dos anos de minha vida estão sendo vividos fora da casa de meus pais, o lugar onde dei os primeiros passos e senti os primeiros sentimentos. A gente desacostuma dos detalhes, e lembrar do que ainda é “nosso” torna-se quase uma dor.
O maior consolo de quem sai é ter a esperança de poder voltar, mesmo que seja apenas para visitas. Da mesma forma, a maior tragédia é não saber para onde voltar.
Um amigo meu, ferido por grandes derrotas em sua vida matrimonial, disse recentemente que voltou para a cidade porque “para recomeçar a vida é preciso voltar ao início”. A maldição reside exatamente na realidade do viajante sem casa. Ele gosta de aventuras, descobre novos lugares e novas pessoas, aprende culturas interessantes e outras línguas, mas de tanto ir, vai perdendo o caminho de volta.
Conhecer o mundo não é suficiente. É preciso lembrar sempre o caminho de casa. E quando o esquecemos, nos perdemos na imensidão da vida, assim como quando um banista se afoga na força bravia do mar, outrora belo, mas agora perigoso. Desesperadamente projetamos, então, o “caminho de casa” em tudo que achamos legítimo.
Eis um drama atual. O homem contemporâneo não sabe mais o caminho de casa. E agoniza entre as infinitas possibilidades.
No entanto, a promessa de Deus é dar o seu reino aos que se reconhecem pobres de espírito (Mt 5.3). Contra a maldição do viajante sem casa, Deus concede pertencimento, um lar. Contra a confusão moderna dos caminhos sem volta, ele diz: “o reino é seu”. Eis uma benção indescritível.
O que fazer então? Enxergarmos toda a miséria que há dentro de nós. Dói, mas é necessário. Diante do desespero, baixe as armas e entregue-se àquele para o qual seu coração pulsa. Não será surpresa mais a frente perceber que você, na verdade, está voltando para casa.