domingo, março 21, 2010

A maldição do horizonte sem sol


O mal do século não é a depressão, muito menos a solidão. Ambas são apenas sintomas de feridas mais profundas. A “cegueira seletiva” é a pior doença dos nossos tempos. O problema não é que não vemos, mas vemos o que não é importante, e deixamos de perceber o que realmente importa. É como visitar uma praia e enxergar apenas o vendedor de sucos. “Não viu a beleza das ondas? Não viu a brancura da areia da praia? Mas você esteve lá!”

A maldição do horizonte sem sol é o drama de se alegrar com a beleza do horizonte, mas não perceber o fulgor do sol. É ler o texto, mas não lembrar do seu título. É identificar o endereço, mas não se dar conta de que a placa da loja está na sua frente. É dedicar-se a decifrar os enigmas modernos, a dominar a tecnologia mais avançada, a criar as metodologias científicas mais inovadoras, mas não compreender as verdades mais profundas, que excedem os fenômenos meramente visíveis. Certa vez ouvi uma pessoa dizer que “a nossa pior tragédia é sermos bem sucedidos no que não importa”.

Nossa geração sofre com a cegueira seletiva porque não apenas seus olhos, mas também seu coração está doente. “São os olhos a lâmpada do corpo”. Se não há luz do lado de fora é porque o lado de dentro está cheio de escuridão. Se não enxergamos o que é mais importante é porque nossa alma está doente e precisa ser restaurada.

Talvez seja mais adequado chamar de epidemia, e não de doença. Isso porque a cura não vem simplesmente com um tratamento individual; é preciso haver uma mudança de olhar muito mais profunda e abrangente. Por estranho que pareça, a cura será eficaz quanto mais coletiva for.

A felicidade de quem se encontra no reino de Deus é enxergar o que realmente importa. É o que Jesus disse em seu famoso sermão: “Felizes as pessoas que têm coração puro, porque elas verão a Deus” (Mateus 5.8). Nossa visão torna-se límpida porque nosso coração também o é. A cura aconteceu antes, de maneira invisível, dentro de nós; e somente a percebemos quando começamos a enxergar o que não víamos antes. È precisamente isso – enxergar o que não víamos antes - que nos garante que a restauração já começou no profundo do nosso ser.

A promessa de Deus é nos curar de uma cegueira seletiva que nos deixa confusos e iludidos com as enganosas paisagens da vida. Somos submetidos a um escrutínio de nós mesmos, que revela nossa doença. Quando nos entregamos a Deus, passamos a ver o sol, ao mesmo tempo em que nos damos conta de que a beleza do horizonte que enxergávamos era apenas o começo.

Ver a Deus é reconhecer a presença pessoal de quem nos deu olhos exatamente para isso: para ver a beleza de sua divindade e para nos deleitar com as obras de suas mãos.

Um comentário:

Cop@ In†egr@l disse...

Certa vez, um amigo me disse: "só os 'maluco' veem o outro lado da lua".
Por que nós não vemos o outro lado da lua? Porque estamos ocupados, vendo o horizonte sem sol. Talvez, necessitamos resgatar o "maluquinho" que éramos quando crianças. Quem sabe assim não poderemos enxergar o outro lado do sol e aprender a lição que já sabemos de cor?!

Parabéns pela série!