Somos capazes de escalar montanhas, percorrer matas e navegar mares à procura do que ainda não temos, de um anseio não realizado. E enquanto buscamos, somos transformados pelo desejo que nos move. De certa forma, ele nos define. À semelhança de Golum, personagem da série “O Senhor dos Anéis”, corremos o risco de perder a humanidade, caso o desejo egoísta pelo “precioso” nos domine.
Nossa geração vive a maldição da carência. Nela, os desejos aprisionam e definem nossos caminhos e nosso jeito de viver. Eles são fonte de lucro financeiro e movem a máquina pós-moderna da existência. Desejo agora é grife, é ideologia, é fundamento para escolhermos a religião, a ética, o amor. Até nossa maneira de pensar é controlada pelos desejos. Somos capazes de chegar a conclusões absurdas para justificar nossa vontade.
A maldição reside num fato curioso: quanto mais buscamos a satisfação, mais insatisfeitos nos tornamos. É como aqueles jogos de azar que nos fazem gastar mais dinheiro sempre que ganhamos um pouco. Ou como um viciado em drogas, que quanto mais consome, mais sente falta. Não há saída para quem segue este caminho. Um dia a insatisfação o dominará de tal forma que ele perderá o sentido de viver. Quando isso acontecer, a maldição da carência chegará ao mais alto nível de destruição.
Se há uma fartura, esta só é concedida a quem tem a fome certa: fome e sede de justiça (Mt 5.6). Isto é, o desejo de tornar-se justo e de fazer parte de uma justiça que vai além dos nossos desejos egoístas. É abrindo-se para a justiça de Deus que nos encontramos em seu reino. Ao contrário da máquina pós-moderna, a engrenagem do reino de Deus nos humaniza, nos faz mais gente. Escolhemos o que é justo, e não obrigatoriamente o que desejamos. No reino andamos livremente, pois o desejo que nos dominava é apenas mais um companheiro de viagem, com o qual até dialogamos, mas sem sermos subjugados por ele.
Contra a maldição da carência só mesmo o consolo e a satisfação de um Deus que nos conhece muito bem. A ele entregamos nossos desejos. Em troca, ele nos dá sua justiça.
2 comentários:
É verdade... Ronald, certa vez, não passou numa entrevista porque, nas palavras do presidente daquela empresa: "você não é ambicioso demais para desejar o meu cargo, se contenta com pouco, não serve..."
Engraçado é que, lendo Eclesiastes hoje, percebi que esse e outros momentos de nossa vida, foram pautados no que realmente é importante. Deus, a família, o ministério... (Ec 4:6, 5:10-12)
Amigo, amo ler seu blog.
Parabéns por mais este post! Bjs!
Valeu a espera. Pena que só vi hoje o texto... Muito edificante mesmo!
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