terça-feira, abril 27, 2010

Escravo

Quem toca, aprisionado está;
Entrelaçado pelas teias da própria alma;
Trilhando a jornada da pequenez,
Cansa-se com o lixo que produz.

Quem vê, limitado está;
Tragado pelas águas escuras da vergonha;
Debatendo-se entre as desculpas do coração,
Adormece os pés, não mais altaneiros.

Quem silencia, algemado está;
Seduzido pela manipulação do poder;
Sonhando-se herói de um mundo egoísta,
Não mais fala, não mais ouve.

Quem aceita, escravizado está;
Submetido à ditadura do prazer;
Confundindo certo e errado, luz e trevas,
Senta-se, enquanto o brilho da coragem se vai.

Areia movediça.
Que os órfãos de Abraão não mais a subestimem.
Nada pode ser controlado.
Nem a liberdade.

“Quem peca é escravo do pecado” (João 8.34)

sábado, abril 10, 2010

Ode à amizade

O singelo poema que escrevi no post anterior poderia muito bem ter outro título: "Ode à amizade". Seu conteúdo reconhece que caminhar com amigos é muito melhor.

Tenho pensado nestes dias sobre o valor da amizade. Os melodramáticos a retiraram do contexto da missão (do meio do caminho), e com isso ela se tornou pobre e motivo apenas para reflexões vazias. Muito do que fazemos de significativo em nossas vidas só é possível porque temos amigos. Muito (ou quase tudo) perderia o sentido se não houvesse a amizade. A amizade é um assunto altamente espiritual!


Jesus reconhece seus discípulos como amigos (Jo 15.15). O que isso significa? O grande trabalho de Jesus foi assumir o sacrifício necessário para que o ser humano se reconciliasse com ele. Reconciliar é restaurar o relacionamento, é voltar a ser amigo. 


Com a morte e a ressurreição de Cristo em favor de nós, tudo mudou. A amizade se tornou o maior presente e a maior obra da Trindade. Se algo faz sentido nesta vida dura, é que somos transformados em amigos. Nossa identidade diante de Deus é formada na perspectiva da amizade. A própria obediência resulta no reconhecimento da amizade (Jo 15.14).


Ser amigo é sentar junto, rir junto, chorar junto, comer junto, trabalhar junto, sonhar junto, caminhar junto. Mas é também viver um estilo de vida que não dificulta a reconciliação. Neste círculo de cumplicidade é que o amor se fortalece (Jo 15.12).


"Faça amigos" é quase sinônimo de "ame um ao outro" (Jo 15.17). Seguindo esta ordem, nosso caminho será muito mais rico e interessante.

terça-feira, abril 06, 2010

Enquanto caminho

Enquanto caminho, vejo mais que estradas.
Vejo rostos também marcados pelas cicatrizes da vida.

Enquanto caminho, ouço mais que passos.
Ouço canções de amizade que embalam os sonhos.

Enquanto caminho
, sinto mais que cansaço.
Sinto alegria por ter companheiros de viagem também alegres.

Enquanto caminho
, carrego mais que bagagem.
Carrego minha história com os outros, que vez ou outra me faz lembrar para aonde vou.

Enquanto caminho
, confio em algo mais do que o mapa.
Confio em Deus, que transforma a dura jornada em uma volta para casa.